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Módulos bifaciais: entenda os ganhos para decidir onde usar com vantagem

Publicado em 29 de abril de 2021

Módulos bifaciais estão cada vez mais presentes no mercado, com promessas de ganhos adicionais de até 30% para o sistema fotovoltaico. Entenda como funciona esta tecnologia para decidir em qual projeto você pode realmente tirar vantagem dela.

A tecnologia bifacial

Para que um módulo possa gerar energia também pelo lado do verso, é preciso fazer as seguintes modificações no processo de fabricação, quando comparado a módulos comuns:

  • O verso da célula passa ser igual ao da frente, com condutores em linhas finas de uma pasta metálica, chamados de "busbars";
  • A superfície do verso recebe tratamento antirreflexo e acaba tendo a mesma aparência da frente;
  • O filme que cobre o fundo do módulo, normalmente branco, passa a ser transparente;
  • As caixas de conexão são menores para permitir que mais irradiação chegue à superfície fotovoltaica.

Com ou sem moldura

A imagem acima mostra um módulo bifacial, pela frente e pelo verso (fonte: Canadian Solar). Ele tem uma moldura em alumínio, igual aos módulos tradicionais.

Já o tipo vidro-vidro vem sem moldura. Neste caso, o verso do módulo também é coberto por vidro e a espessura total fica entre 5 e 8 mm. Este tipo usa sistemas de fixação diferenciados.

A maior diferença entre os dois tipos consiste no manuseio: a espessura da moldura, entre 30 e 40mm, facilita carregar o módulo com segurança.

O módulo sem moldura é muito mais sensível contra pequenos desleixos, o que acarreta uma maior perda durante a instalação. Por isso, é mais indicado para instalações em solo.

Irradiação no verso do módulo

A frente do módulo bifacial gera energia da mesma forma que um monofacial. O verso acrescenta energia gerada a partir da irradiação que incide nesta face.

Esta irradiação chega por diferentes caminhos:

  • Irradiação difusa, refletida pelo céu;
  • O solo ao redor do módulo reflete irradiação, um efeito chamado de albedo;
  • Módulos na fileira posterior refletem irradiação em certos momentos do dia;
  • Quando a posição do sol está por trás dos módulos, pode até haver incidência de irradiação direta;

A eficiência do verso do módulo costuma ser inferior à da frente, o que é expresso no "fator bifacial", informado na ficha técnica. Tipicamente é aproveitada entre 70% e 90% da irradiação no verso.

O sistema de fixação impõe perdas adicionais, por cobrir parte do verso.

Evidentemente, há ganhos somente em montagem elevada, e não em montagem paralela ao telhado.

Ganhos com módulos bifaciais

A única forma de prever os ganhos adicionais com módulos bifaciais é uma simulação do sistema fotovoltaico, levando em consideração os seguintes itens:

  • Dados climáticos detalhados que contêm o perfil de irradiação direta e difusa ao longo do ano (TMY = typical meteorológical year);
  • Informações sobre o albedo do solo abaixo dos módulo;
  • Detalhes do módulo utilizado, com o fator de bifacialidade, entre outros;
  • Informação completa da montagem, com inclinação e altura das fileiras e distância entre elas;
  • A simulação deve ocorrer em intervalos de hora ou de minuto ao longo do ano e apresentar ganhos e perdas de forma detalhada.

A imagem à direita mostra um exemplo calculado no software PV*SOL. A primeira linha marcada traz o ganho de irradiação no verso do módulo, e a segunda, a perda pelo fator de bifacialidade (o fator de 80%, neste exemplo, causa perdas de 20% da irradiação no verso).

Onde vale a pena usar módulos bifaciais?

Simulações no software PV*SOL mostram que os ganhos, nas condições do Brasil, alcançam percentuais baixos. Uma razão é a baixa inclinação dos módulos, adequada para o percurso alto do sol tão perto do equador.

A outra é o ângulo azimutal entre nascer e pôr do sol, que é mais fechado em latitudes baixas do que em altas.

Mesmo sem ganhos altos vale muito avaliar a tecnologia, já que o preço não difere muito dos módulos monofaciais. Simule o projeto e avalie o resultado financeiro junto com o investidor para tomar a decisão!

Instalação com rastreadores (tracking)

A montagem que acompanha o movimento do sol ao longo do dia não muda as características da irradiação recebida no verso do módulo. O que muda, a cada passo da simulação, e a posição de cada módulo.

No Brasil, as usinas de grande porte costumam usar tracking com módulos bifaciais, para aproveitar a irradiação ao máximo.

Como configurar os módulos bifaciais com inversores

Vamos entender as características elétricas da célula bifacial:

  • A irradiação adicional, recebida no verso da célula, aumenta a corrente produzida pela mesma;
  • A tensão continua igual, porque depende, em primeiro lugar, da temperatura da célula.
  • A frente do módulo gera a corrente máxima quando o sol está em posição perpendicular ao módulo e a irradiação chega de forma direta, sem qualquer nuvem no céu;
  • Neste momento, o verso recebe pouca irradiação;
  • Com isso, a corrente máxima, na prática, raramente supera a corrente máxima da frente.

Podemos, portanto, efetuar a configuração entre módulo e inversor usando a corrente máxima de circuito aberto da frente apenas. A tabela à direita apresenta, as características do módulo com 0% a 20% de ganho no verso. Usaremos a primeira linha então.

Você pode, portanto, usar a mesma planilha disponibilizada no manual de energia solar, ensinada também no curso de projeto de sistemas conectados à rede.

Resumo

Módulos bifaciais trazem ganhos adicionais em projetos com montagem elevada dos módulos. É indispensável efetuar uma simulação em um software confiável, como PV*SOL ou PVsyst, para apontar se os ganhos superam eventuais custos adicionais.

No curso avançado do software PV*SOL abordamos o assunto e mostramos como efetuar uma simulação numa usina em solo.